Crise dos opioides
A crise dos opioides é um assunto muito sério e não divulgado como deveria. Para se ter uma ideia, nos EUA a chance de um idoso morrer de overdose pela utilização de drogas analgésicas compostas por opioide é maior do que em jovens viciados em heroína. No gráfico, a coluna em azul claro é referente as mortes decorrentes de medicamentos a base de opiáceo, já a coluna em azul escuro representa os óbitos por heroína.
O que são opioides?
Opioides são drogas derivadas do ópio. Onde pela primeira vez há 200 anos, um químico alemão chamado Friedrich Serturner conseguiu isolar a morfina a partir da seiva da papoula do ópio.
A partir de então, médicos começaram a prescrever indiscriminadamente morfina a seus clientes, gerando no final do século XIX uma enorme crise que atingiu desde soldados da guerra civil americana até donas de casa de classe média americana.
Os riscos dos opioides foi um consenso, fazendo a Bayer Corporation criar um derivado com a alegação de que a nova substância teria menos riscos aos usuários. Esse derivado foi chamado de heroína. A Bayer alegava ter feitos estudos que comprovaram isso. porém hoje sabemos que isso não era uma verdade.
Por volta de 1914 isso virou um problema tão grande que fez as autoridades criarem leis específicas para o controle de tais substâncias.
A segunda crise dos opioides veio após a segunda guerra mundial, onde a heroína de origem ilegal começou a atingir os jovens, dessa vez a droga começou a ser utilizada de maneira injetável. Onde tivemos o seu auge nos anos 70.
A atual crise dos opioides
A epidemia atual teve início em 1996 e persiste até hoje. De longe, essa é a maior crise de dependência de drogas já enfrentada. Isso quando olhamos o números de usuários e quantos morreram de overdose.
O CDC, Centers for Disease Control, tem sido bem claro na causa dessa epidemia atual de dependentes de opioides. Onde vem observando o aumento da prescrição e consequentemente o aumento de mortes pelo uso exagerado.
A razão pelo aumento dessas prescrições a partir dos anos 90 tem a ver com as estratégias de marketing utilizadas pelas empresas. Em 1996 quando se iniciou a comercialização do oxycontin, a empresa estimulou a sua utilização para casos comuns, porém a comunidade médica já conhecia o alto risco de dependência química e as suas limitações para dores crônicas.
Ao utilizar o medicamento de forma contínua, o paciente apresentaria tolerância aos seus efeitos de alívio da dor, necessitando cada vez de doses maiores.
A partir de então, a prescrição de drogas opiáceas passou a ser utilizada apenas em pacientes com dores severas e á curto prazo, por exemplo após cirurgias de grande porte.
Em uma estratégia publicitária, a indústria farmacêutica iniciou uma campanha de reconceitualização das barreiras para a prescrição do medicamento. Fazendo programas educacionais que colocavam os riscos de vício e overdose como exagerados. A partir de então, médicos que tinham cautela na prescrição de opiáceos, passaram a se sentir pressionados, como se eles fossem médicos menos humanizados por deixarem seus pacientes sentirem dor sem necessidade. A partir de então, o aumento de sua prescrição aumentou de forma exponencial. Levando a epidemia que estamos enfrentando até hoje.
Uma curiosidade pouco conhecida é que o sistema de saúde do EUA recomenda a prescrição de Naxolona associada ao analgésico. Dessa forma ele teria uma ação de reverter os efeitos de uma potencial overdose.
Como funciona os opioides?
Imagina uma pessoa sofrendo uma queda e quebrando o braço, imediatamente é enviada uma mensagem ao cérebro informando que uma lesão acabou de acontecer. Imediatamente nosso cérebro produz uma sensação dolorosa, com a função de ativar um alerta para que alguma atitude seja tomada, como por exemplo ir a um hospital. Porém, se a dor continuasse intensa, iriamos entrar em pânico e não conseguiríamos tomar a decisão certa para nossa sobrevivência. Dessa forma, o nosso cérebro produz substâncias chamadas endorfinas, que têm a capacidade de se ligar a proteínas que agem como receptores de opioides. Esses receptores ao serem ativados, funcionam como um freio para lentificar a transmissão da condução desses sinais de dor, consequentemente suprimindo ela.
Entendendo isso, conseguimos visualizar como funciona a atuação dos analgésicos opiáceos, que ao ser administrado no paciente com dor, irá se ligar a esses receptores, gerando uma diminuição do sinal de dor “imitando” a ação das endorfinas.
Como o corpo cria dependência de opioides?
Porém, não é somente nos neurônios de transmissão de dor que os opioides agem. Existe uma região no cérebro chamada área tegmental ventral. Essa área é responsável pela produção de uma substância chamada dopamina. Assim sendo, a dopamina é liberada quando algo de bom acontece, como um sistema de recompensa. Porém, a dopamina não pode estar continuamente sendo produzida, pois ela é produzida para que continuemos a buscar coisas boas. Para isso temos neurônios inibitórios que estão continuamente ativados para frear essa produção. Dessa maneira, apenas quando algo bom aconteça, esses neurônios passam a permitir a liberação da dopamina.
Esse é um ponto importantíssimo na compreensão da dependência química e consequentemente a crise dos opioides. Porque ao mesmo tempo em que os opioides agem na regulação da dor, também influenciam na produção da dopamina, como que se desligasse os “freios” dessa produção. Dessa maneira provocando além do alívio da dor, uma sensação de bem estar. Contanto, sabemos que ao continuar o seu uso por tempo prolongado, a produção da dopamina se torna cada vez mais difícil, fazendo com que seja necessário cada vez doses maiores para atingir o mesmo resultado. E quando se interrompe o medicamento, a produção de tais substâncias são completamente interrompidas, gerando além da dor, sensações de ansiedade e depressão, o que chamamos de síndrome de abstinência. Dessa forma iniciando o ciclo da dependência química.
Contanto, sabemos que a maioria das pessoas poderão interromper o uso do medicamento sem grandes dificuldades. Porém, uma parcela desses pacientes que por diversos motivos, dentre eles questões genéticas e sociais irá apresentar maior tendência a ser tornar dependentes químicos.
A chamada crise dos opioides é tão grave, que pela primeira vez na história dos EUA a expectativa de vida a partir de 2014 caiu de forma progressiva. A boa notícia, é que em 2019 pela primeira vez em 20 anos, o número de mortes por overdose caiu, mostrando que as campanhas para prevenir a utilização abusiva de analgésicos a base de opio estão surtindo efeito. Porém ainda assim o número de vitimas continua muito alto.
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28 de abril de 2022 @ 22:17
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